O megacólon é caracterizado pela dilatação anormal do intestino grosso, geralmente associada a um quadro de hipomotilidade persistente, resultando em grave constipação que pode progredir para obstipação e comprometimento sistêmico. Em felinos pode ser secundário à obstruções mecânicas crônicas, como o estreitamento do canal pélvico decorrente da consolidação inadequada de fraturas, sendo uma causa frequente de constipação. Este trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma fêmea felina sem raça definida, com 1 ano e 6 meses de idade, apresentando histórico de fecalomas recorrentes há aproximadamente um ano, confirmados por ultrassonografia e radiografia abdominal. A paciente não respondeu ao tratamento clínico convencional e apresentou recidiva após duas cirurgias para remoção de fecaloma, realizadas em um intervalo de três meses, tornando necessária nova abordagem cirúrgica. Durante o exame físico, observou-se assimetria pélvica e acentuada estenose à palpação retal. A radiografia de abdome e pelve confirmou a presença de megacólon, associado ao discreto estreitamento do canal pélvico, relacionado à consolidação de fraturas envolvendo o acetábulo esquerdo e o púbis. Contudo, os achados radiográficos não eram compatíveis com o grau de estenose identificado clinicamente. Diante disso, realizou-se exame contrastado do reto, que evidenciou estenose mais acentuada que a observada na radiografia simples. Para avaliação mais precisa, a paciente foi submetida à tomografia computadorizada (TC) da pelve, considerada o exame padrão-ouro para análise tridimensional em casos de megacólon secundário. A TC revelou um fragmento ósseo consolidado do púbis, não visível pela radiografia convencional, promovendo compressão dorsolateral do reto. Frente a esses achados, optou-se pela realização de ostectomia púbica parcial bilateral, com o objetivo de remover o fragmento ósseo responsável pela compressão e ampliar o canal pélvico. O procedimento cirúrgico foi realizado por meio de celiotomia caudal, com incisão da pele, dissecção dos planos
subcutâneos e musculares, exposição da sínfise púbica e afastamento dos músculos adutores. Realizou-se a ressecção da porção cranial desviada do púbis, com hemostasia cuidadosa e preservação das estruturas adjacentes. Como a ostectomia restringiu-se à ressecção do fragmento púbico responsável pela compressão retal, sem comprometer a integridade estrutural da sínfise, não foi necessário a utilização de material de síntese para estabilização óssea. A cavidade foi inspecionada e realizou-se a síntese em camadas anatômicas. No pós-operatório, observou-se melhora na estenose pélvica à palpação retal e retorno gradual da evacuação, com progressiva recuperação clínica. No acompanhamento após um ano da cirurgia, a paciente apresentou ganho de peso, melhora no escore de condição corporal e significativa redução dos episódios de constipação, que passaram a ser leves e responsivos ao uso de laxantes. Conclui-se que a ostectomia púbica parcial bilateral representa uma alternativa eficaz no manejo de pacientes com megacólon secundário ao estreitamento pélvico, permitindo o alívio mecânico da obstrução e a recuperação funcional do segmento intestinal. Ressalta-se, ainda, a importância da tomografia computadorizada na identificação precisa da causa obstrutiva, possibilitando intervenções cirúrgicas direcionadas e mais resolutivas.